Bolsonaro e Trump: avanços e recuos no combate à corrupção
Nos últimos anos, Jair Bolsonaro e Donald Trump foram figuras centrais em debates sobre corrupção em seus respectivos países. Ambos construíram suas campanhas com discursos de moralidade e promessas de endurecimento contra práticas ilícitas, mas seus governos mostraram avanços e recuos nesse tema.
No Brasil, Bolsonaro defendeu a Lei da Ficha Limpa desde sua aprovação em 2010, apoiando a ideia de barrar candidaturas de políticos condenados por decisão colegiada. Esse compromisso foi reforçado em 2018, quando usou a legislação para contestar a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, preso na época.
Porém, após sua eleição, Bolsonaro sofreu críticas por mudanças na condução do combate à corrupção. O desmonte da Operação Lava Jato e a saída do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, evidenciaram um afastamento da postura inicial de tolerância zero contra desvios de conduta. A indicação de aliados políticos para órgãos de fiscalização também levantou questionamentos sobre sua real disposição em manter o rigor prometido.
Nos Estados Unidos, Trump também adotou um discurso anticorrupção, criticando o “pântano de Washington” e prometendo limpar a política americana. Seu governo promoveu algumas ações nesse sentido, mas ao longo do mandato, ele enfrentou escândalos e acusações de favorecer aliados, além de ser alvo de processos de impeachment.
Bolsonaro saiu na frente ao implementar medidas como o fortalecimento do pacote anticrime e a defesa inicial da Lava Jato, enquanto Trump focou em enfraquecer investigações que poderiam atingir sua administração. No entanto, ambos retrocederam ao longo do tempo, seja por conveniência política ou necessidade de preservar apoios dentro de seus governos.
A relação de Bolsonaro com o Centrão e o uso do orçamento secreto são exemplos de como seu governo precisou ceder a velhas práticas para manter governabilidade. Já Trump foi criticado por indultos concedidos a aliados condenados e por tentativas de interferência em investigações do FBI.
A grande diferença entre os dois líderes foi a abordagem de suas respectivas Justiças. Nos EUA, Trump ainda enfrenta processos que podem afetar seu futuro político, enquanto no Brasil, Bolsonaro e seus aliados tentam se proteger contra investigações que envolvem desde interferência na Polícia Federal até casos de corrupção durante a pandemia.
No final das contas, ambos demonstraram que, na política, o combate à corrupção pode ser uma bandeira forte para se eleger, mas sua manutenção depende de interesses e circunstâncias. Se no início foram vistos como inimigos das práticas ilícitas, ao longo de seus mandatos mostraram que, na prática, o discurso pode ser bem diferente da realidade.